O Liberalismo Teológico não é um conjunto de doutrinas e crenças que todo adepto da Teologia Liberal precisa aceitar para ser considerado um liberal bona fide. Nele não existem credos e confissões que todo liberal precisa aceitar para poder se considerar um liberal. Não existe ortodoxia. Não existem Tribunais de Inquisição. Consequentemente, não existem heresias, nem tampouco hereges. Não existe perseguição nem, muito menos, expurgo dos que ousam pensar, ou conduzir sua vida, de forma diferente. E não existem fogueiras onde queimar os hereges, porque inexiste essa categoria de pessoas, porque também inexiste a categoria de liberais ortodoxos, uma verdadeira contradição de termos.
O Liberalismo Teológico é um jeito e uma forma de entender o Cristianismo, de relacionar o Cristianismo com o mundo em que ele está inserido, de ler e interpretar tanto a Bíblia como a Tradição, e de fazer Teologia. O Liberalismo Teológico procura identificar e preservar a essência da herança recebida, e está disposto a acomodar o restante às novas realidades em que o Cristianismo precisa se situar.
Quem não aceita esses postulados geralmente não vem para o Liberalismo Teológico. Mas se, por absurdo, quiser vir, virá, será bem-vindo, e ficará ali até quando quiser sair (se isso acontecer), porque ninguém ficará incomodado com ele, nem, muito menos, tentará impedi-lo de pensar como pensa, e agir como acredita que deve, e, muito menos, tentará puni-lo por pensar assim.
Na Igreja Presbiteriana Americana, quando os liberais teológicos, depois de sofrer perseguição e expurgos (felizmente não chegou a haver fogueiras na Inquisição de lá), alcançaram a maioria, eles não perseguiram nem colocaram para fora da igreja fundamentalistas e conservadores como J. Gresham Machen e John Gerstner. Estes ficaram lá até o momento em que eles próprios resolveram sair.
O movimento conhecido como “Liberalismo Teológico”, que existe desde os primórdios do Cristianismo, não tem esse nome por acaso. Seus adeptos prezam a liberdade de pensar e de agir, e, por conseguinte, de ser cristãos como acham que devem. E não negam esse direito para ninguém.
Se Paulo de Tarso houvesse sido obrigado a ser cristão judaizante, como Pedro e Tiago, não haveria Cristianismo, hoje. Ou o Cristianismo não seria nada mais do que uma variante do Judaísmo Ortodoxo, só que com Cristo. Paulo, se a gente descontar o próprio Jesus de Nazaré, foi o primeiro liberal teológico, à sua moda (como são todos os liberais teológicos, do seu jeito, “their way”). Ele acomodou o Cristianismo Judaizante de uma Palestina Judaica à realidade do mundo greco-romano pluralista, inclusive no tocante à religião, onde não havia nem judeu, nem grego, nem romano: havia apenas gente.
[Esta Nota representa a essência de um artigo que estou escrevendo sobre “A FATIPI e o Liberalismo Teológico”, a propósito de um podcast disponível no Youtube e no Spotify. Esperava publicar o artigo logo depois que o podcast foi divulgado, mas ele cresceu e está virando um ensaio, já com 60 páginas, sobre a Teologia Liberal. A divulgação desta “essência” do artigo tira um pouco da pressão que eu próprio coloquei sobre mim para publicar o ensaio, mesmo que meio inacabado…]
[Eduardo Chaves, 2.6.2023]
